domingo, 29 de março de 2020





Continuando sobre o tema PARERGON/ MOLDURA 29/03/2020
Por que insistir (ainda!) na questão da Moldura/ Parergon? Pois nessa relação (ambígua, conflitante, contraposta) entre moldura e imagem, está um problema da LEITURA. Nós podemos ler somente olhando a partir de um ponto de vista (uma perspectiva) e um determinado ângulo, para uma determinada superfície. Precisamos fazer uma ESCOLHA. E essa escolha equivale a uma interpretação. É claro que podemos tentar ignorar a moldura, podemos ter obhjetos SEM MOLDURA, ou podemos ter imagens que tentam fugir da moldura. Um exemplo disso é o quadro de Pere Borrel del Caso (aqui na Wikipedia), um pintor catalão do séc XIX, que apresenta esta fugura...
O protagonista está prestes a invadir NOSSO espaço. ele está CONOSCO, não mais preso em sua prisão/ moldura. (retomando o exemplo do Decameron, seu Proêmio - Introdução, quando narra seu próprio caso de amor, e a Introdução à 1a Jornada (quando descreve a peste) são duas molduras, às quais se juntam ao mínimo outras duas (os narradores que contam entre si histórias e Madama Oretta que narra uma história de omo narrar histórias) desta fo leitor é induzido a fazer uma correlação entre as molduras entre si, as molduras e a a utobiografia, a autobiografia e os exemplos anteriores de autobiografia (Santo Agostinho), a descrição da peste (moldura n. 2) com as descrições da peste anteriores, o título (Principe Galeotto) com os poetas do Dolce Stk Novo e Dante Alighieri (e o canto V, de Paolo e Francesca). Em prática, as molduras vêm produzindo sentidos e modificam, orientam, distorcem o texto narrado, que fdificilemnte pode ser lido ingenuamente como a história de dez jovens que fogem da morte (como o Decameron continua sendo apresentado)

O termo Parergon é usado por Jacques Derrida, em "A verdade na pintura". Ele é uma composição de duas palavras gregas: Para e ergon, uma espécie de "acréscimo a uma obra". Esta-se falando aqui da MOLDURA, algo de que já se falou. Parergon é um conceito retomado na época da Renascença, foi enfatizado pelo Folósofo Immanuel Kant. 
Para nós, Parergon representa mais de que uma ambiguidade (a moldura pode ser mais importante do quadro): é uma forma de identificar um conflito, que o filósofo Ortega y Gasset, define entre "mundo e irrealdade". Vejam aqui uma citação do filósofo espanhol: 
Ortega Y Gasset 
o quadro tem algo da janela, assim como a janela tem muito do quadro. As telas pintadas são buracos de idealidade praticados na muda realidade das paredes: brechas de improbabilidade em que nos debruçamos através da benéfica janela representada pela moldura [...] O quadro é uma abertura de irrealidade que magicamente ocorre em nosso mundo real. Quando olho para este parede doméstica cinzenta, minha atitude é necessariamente um utilitarismo vital. Quando olho para a foto, entro em um âmbito imaginário e adoto uma atitude de pura contemplação. São, portanto, parede e quadro, dois mundos antagônicos e sem comunicação. Do real ao irreal, o espírito dá um salto, como entre vigília e sono. A obra de arte é uma ilha flutuante imaginária, cercada pela realidade por todos os lados. [Ortega e Gasset 1997, p.225 sub. meu]

[la cornice ha qualcosa della finestra, così come la finestra ha molto della cornice. Le tele dipinte sono buchi di idealità praticati nella muta realtà delle pareti : brecce di inverosimiglianza a cui ci affacciamo attraverso la finestra benefica della cornice [...] il quadro è un'apertura di irrealtà che avviene magicamente nel nostro ambito reale. Quando guardo questa grigia parete domestica, la mia attitudine è, per forza, di un utilitarismo vitale. Quando guardo il quadro, entro in un recinto immaginario e adotto un'attitudine di pura contemplazione. Sono, dunque, parete e quadro, due mondi antagonistici e senza comunicazione. Dal reale all'irreale, lo spirito fa un salto, come dalla veglia al sonno. L'opera d'arte è un'isola immaginaria che fluttua, circondata dalla realtà da ogni parte. [J. Ortega y Gasset, "Meditazioni sulla cornice", in I percorsi delle forme. I testi e le teorie, a c. di M. Mazzocut-Mis, Bruno Mondadori, Milano 1997. 1997, p.225, apud La cornice e il problema dei margini della rappresentazione. Antonio Somaini http://www.lettere.unimi.it/Spazio_Filosofico/leparole/duemila/ascorn.htm ]

Veja a imagem na capa do livro de Derrida. A confusão entre representação do pé e o sapato, que cobre o pé....

A problemática é um pouco estranha: pois podemos afirmar que sem moldura, sem uma escolha prévioa do espaço e do tempo, sem uma forma de interpretação desse espaço, NÃO CONSEGUIMOS LER ABSOLUTAMENTE NADA. Parece um exagero, mas olhem para a narrativa de Walter Benjamin, sobre o faraó egípcio Psammenit: se narrarmos o conto assim: "Um pai, que era um nobre aos seus tempos, olha o filho ser levado para ser morto e a filha acorrentada. E não pronuncia um punico lamento. Mas quando vê seu escravo e amigo preso, prorromepe em soluçõs". Não é uma história que faz muito sentido, sem saber 1. que foi Tucídides, historiador grego, que a narrou inicialmente. Que o filósofo Montaigne deu grande importância a essa narrativa. Que o escritor alemão Benjamin teceu suas considerações, tomando essa narrativa como paradigma do que é literatura.  Tudo isso tem a função que a moldura tem no quadro. Ela define um espaço, endereça o olhar do espectador/ leiutor. Melhor ainda: ela força essa sua omada de consciência, ela (a moldura) dirige seu olhar, prende sua atenção. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário