sexta-feira, 8 de maio de 2009

A Ética da Leitura de J. Hillis Miller

O título da coletânea de ensaios de J. Hillis Miller, um instigante critico
norteamericano desconstrucionista é cativante. Dos 10 ensaios, vou abordar
somente um aspecto do ensaio cujo título é homônimo. Começo com duas questões,
duas regras de um suposto manual de conduta, que o crítico coloca, fechando seu
ensaio.

1. A obrigação ética primaria do professor de literatura é para com a obra literária. (HILLIS MILLER,Ética da Leitura. Rio de Janeiro: Imago, 1995, p. 85)

Concordamos certamente, pois nosso interesse (de pesquisadores, alunos,
docentes) é com texto, sua materialidade. Os elementos externos: psicológicos, históricos, sociológicos são menos relevantes, não influem na armação do texto. Afinal de contas, já assumimos a contundente crítica ao positivismo, formulada por Walter Benjamin, em suas Teses sobre História. Hillis Miller exclui qualquer
nostalgia de recuperar o "autor" (morto e enterrado há muito tempo) e suas
supostas intenções, que os leitores deveríam detectar.
O aspecto limitativo da formulação de Hillis Miller é, porém, que diminue o alcance da ética unicamente ao momento didático e aos especialistas (o "professor") e, portanto, leva a pensar a uma comunidade de discentes que dele depemdem de forma tradicional . Trata-se de uma concepção da "ética" que sugere um determinado comportamento e, nisso não diverge da concepção da ética tradicional e normativa, que o leitor deverá aplicar, quando for ler os textos.


2. Minha segunda convicção acerca da nova ética da leitura é que sua
obrigaçao primária será e deve ser filológica.
(HILLIS MILLER, Ética da Leitura, p. 85 e 86-7)


A segunda afirmação de Hillis Miller, também deve ser considerada, em princípio, correta:
leitura é relação com texto, ou seja, com o método de análise e leitura do texto
que a filologia (uma definição que soa antiga) e as inúmeras escolas que
privilegiam a materialidade do texto, indicam.
No texto, o autor fala em mais de uma ocasião de boa leitura, algo que não existe na crítica literária mas que - felizmente - recupera uma atitude fundamental, para leitura assim como para muitas outras atividades: trata-se do bom senso.

Hillis Miller fala de uma correta atitude do leitor, de uma boa leitura por parte dele, de como é importante dar continuidade ao ato da leitura.

O perigo, do ponto de vista do autor (e não somente dele!) é a invasão de
informações, imagens, modelos de leitura por meio das novas mídias e o que isso
pode causar de estrago na leitura. Esse perigo verifica-se por ex. nas seguintes
condições, seghundo Miller:

"Se o domínio autônomo da estética é isolado da epistemologia e da ética, se a literatura é primeiramente valorizada como espetáculo, aparência, "sensação" (como sugere a etimologia de "estética"), então essa necessidade humana particular pode ser satisfeita por meios muito mais fáceis, como, por exemplo, pela televisão ou pelo cinema, e sem toda aquela trabalheira de ler e aprender um vocabulário novo." (p. 79)

Uma objeção: em cada época houve uma modificação das condições de leitura. Hoje há uma enormidade de informações, com o duplo efeito de paralizar a operação de leitura (frente à massa tão grande de informações) e de diminuí-la, achatá-la, reduzindo a leitura a uma coletânea de texto, um patchwork, em que
criatividade e originalidade não tem nenhuma função.
A ética de leitura, ao contrário, deve ser considerada um processo hermenêutico em que o leitor se encontra frente a um texto (qualquer texto) e deve assumir submeter-se à interpretação canônica ou rebvelar-se a ela...

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