sexta-feira, 8 de maio de 2009

Que viva Villa ! Emilio Villa ou da poesia

Villa 2
Emilio Villa é um poeta complexo. Magmático. Uma encruzilhada entre palavras (retorcidas, embaralhadas, enigmatizadas) e pintura (gravura). Ut pictura poesis: um encontro, após momentos de forte tensão, de duas tradições fortes. A da escrita (escrita de deus, escrita da magia e tda trasnfromação do mundo) e a de uma imagem que, reproduzindo o mundo, compete com sua representação. Manifestando uma natural tendência à referencialidade, desenvolve logo curvas e voltas no ar, para elevar-se a um universo decores e formas, antes somente vislumbrado.

Há um poema, de Villa, que aponta para uma tensão impossível entre culturas e linguagens. Onde impossível é, ao mesmo tempo, eufemismo e antinomia, de uma tarefa comprida. Ele o escreveu no Brasil, na Bahia, chegando para sua jornada de dois anos em São Paulo. Ea dedicou ao seu amigo Flavio Motta.






EMILIO VILLA
MATA-BORRÃO PARA FLAVIO
MOTTA


eu diria l’m encantado, e então
uma nuviosa designação de continentes
involuntarios por jogos
nasais, fundos jogos, acende
ao lonje
entre os anos desperdidos itinerantes
como faiscas de amarguras
abdominais, como bichos de cristal na nuca muda, acende
o
nome mais amado mais miolo mais milagre
e o quem diz: “agora!”e o
quem

cai no corte mítico do mundo, nas luminosas
trovejadas
generações dos nomes: léxico
jejum e fresco come o prado de espinafre de
trevo
no recóncavo, pálidas requisições de ecos
e espirros e réplicas,
anforas anoitecidas
no pulmão gigante, palpitantes gengivas,
cenoiras
africanas, paleoafricanas, protoafricanas, coxas
rasgadas o
abertas, polpas de abóboras
ideais: agora, agora. Nam rectitudo
per se est
phallica, truncada também, devagazinha:

onde uma zigoma torna-se
sigla e sigilo, torna-se
constellação deitada nas escuras polpas sem
nomes
e incha-se então de raiva a fonte das medidas
e das mudançãs, lá,
eu digo, provocar
o poder subhumano da pasmação, do broto
não mortal, o
vôo ocioso, o ganir
chupado, de viboras nas câimbras
das vagas, dos grans,
e veremos lampejar
a alta caça, a esgrima
em voz baixa na caveira, as
balanças de ossos
eschatologicos, agora mismo,

si o sangue da
sombra não é sangue ni sombra,
si o cavalo do cavalo agora é sombra
desmaiada
o sombra brotada na suma sombra ostra, o som
da tromba saca o
celeste descontecer, afrouxa
o orvalho, e o remo corta em dois as cinzas
dos vivos e as cinzas dos sons, como
na páscoa dos continentes cortó o
Brazil e a Angola,
cortó as arvores da ciencia e as arvores da
loucura
peregrinante, cortó o tubarão em dois espelhos
a tromba grande:
não agora.

Bahia, 1951


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