

A partir de 28/03 as publicações estarão disponíveis na página https://sites.google.com/view/eticadaleitura
O título da coletânea de ensaios de J. Hillis Miller, um instigante critico
norteamericano desconstrucionista é cativante. Dos 10 ensaios, vou abordar
somente um aspecto do ensaio cujo título é homônimo. Começo com duas questões,
duas regras de um suposto manual de conduta, que o crítico coloca, fechando seu
ensaio.1. A obrigação ética primaria do professor de literatura é para com a obra literária. (HILLIS MILLER,Ética da Leitura. Rio de Janeiro: Imago, 1995, p. 85)
Concordamos certamente, pois nosso interesse (de pesquisadores, alunos,
docentes) é com texto, sua materialidade. Os elementos externos: psicológicos, históricos, sociológicos são menos relevantes, não influem na armação do texto. Afinal de contas, já assumimos a contundente crítica ao positivismo, formulada por Walter Benjamin, em suas Teses sobre História. Hillis Miller exclui qualquer
nostalgia de recuperar o "autor" (morto e enterrado há muito tempo) e suas
supostas intenções, que os leitores deveríam detectar.
O aspecto limitativo da formulação de Hillis Miller é, porém, que diminue o alcance da ética unicamente ao momento didático e aos especialistas (o "professor") e, portanto, leva a pensar a uma comunidade de discentes que dele depemdem de forma tradicional . Trata-se de uma concepção da "ética" que sugere um determinado comportamento e, nisso não diverge da concepção da ética tradicional e normativa, que o leitor deverá aplicar, quando for ler os textos.
2. Minha segunda convicção acerca da nova ética da leitura é que sua
obrigaçao primária será e deve ser filológica. (HILLIS MILLER, Ética da Leitura, p. 85 e 86-7)
A segunda afirmação de Hillis Miller, também deve ser considerada, em princípio, correta:
leitura é relação com texto, ou seja, com o método de análise e leitura do texto
que a filologia (uma definição que soa antiga) e as inúmeras escolas que
privilegiam a materialidade do texto, indicam.
No texto, o autor fala em mais de uma ocasião de boa leitura, algo que não existe na crítica literária mas que - felizmente - recupera uma atitude fundamental, para leitura assim como para muitas outras atividades: trata-se do bom senso.
Hillis Miller fala de uma correta atitude do leitor, de uma boa leitura por parte dele, de como é importante dar continuidade ao ato da leitura.
O perigo, do ponto de vista do autor (e não somente dele!) é a invasão de
informações, imagens, modelos de leitura por meio das novas mídias e o que isso
pode causar de estrago na leitura. Esse perigo verifica-se por ex. nas seguintes
condições, seghundo Miller:
"Se o domínio autônomo da estética é isolado da epistemologia e da ética, se a literatura é primeiramente valorizada como espetáculo, aparência, "sensação" (como sugere a etimologia de "estética"), então essa necessidade humana particular pode ser satisfeita por meios muito mais fáceis, como, por exemplo, pela televisão ou pelo cinema, e sem toda aquela trabalheira de ler e aprender um vocabulário novo." (p. 79)
Uma objeção: em cada época houve uma modificação das condições de leitura. Hoje há uma enormidade de informações, com o duplo efeito de paralizar a operação de leitura (frente à massa tão grande de informações) e de diminuí-la, achatá-la, reduzindo a leitura a uma coletânea de texto, um patchwork, em que
criatividade e originalidade não tem nenhuma função.
A ética de leitura, ao contrário, deve ser considerada um processo hermenêutico em que o leitor se encontra frente a um texto (qualquer texto) e deve assumir submeter-se à interpretação canônica ou rebvelar-se a ela...
EMILIO VILLA
MATA-BORRÃO PARA FLAVIO
MOTTA
eu diria l’m encantado, e então
uma nuviosa designação de continentes
involuntarios por jogos
nasais, fundos jogos, acende
ao lonje
entre os anos desperdidos itinerantes
como faiscas de amarguras
abdominais, como bichos de cristal na nuca muda, acende
o
nome mais amado mais miolo mais milagre
e o quem diz: “agora!”e o
quem
cai no corte mítico do mundo, nas luminosas
trovejadas
generações dos nomes: léxico
jejum e fresco come o prado de espinafre de
trevo
no recóncavo, pálidas requisições de ecos
e espirros e réplicas,
anforas anoitecidas
no pulmão gigante, palpitantes gengivas,
cenoiras
africanas, paleoafricanas, protoafricanas, coxas
rasgadas o
abertas, polpas de abóboras
ideais: agora, agora. Nam rectitudo
per se est
phallica, truncada também, devagazinha:
onde uma zigoma torna-se
sigla e sigilo, torna-se
constellação deitada nas escuras polpas sem
nomes
e incha-se então de raiva a fonte das medidas
e das mudançãs, lá,
eu digo, provocar
o poder subhumano da pasmação, do broto
não mortal, o
vôo ocioso, o ganir
chupado, de viboras nas câimbras
das vagas, dos grans,
e veremos lampejar
a alta caça, a esgrima
em voz baixa na caveira, as
balanças de ossos
eschatologicos, agora mismo,
si o sangue da
sombra não é sangue ni sombra,
si o cavalo do cavalo agora é sombra
desmaiada
o sombra brotada na suma sombra ostra, o som
da tromba saca o
celeste descontecer, afrouxa
o orvalho, e o remo corta em dois as cinzas
dos vivos e as cinzas dos sons, como
na páscoa dos continentes cortó o
Brazil e a Angola,
cortó as arvores da ciencia e as arvores da
loucura
peregrinante, cortó o tubarão em dois espelhos
a tromba grande:
não agora.
Bahia, 1951