Ética da Leitura
Clique aqui

A partir de 28/03 as publicações estarão disponíveis na página https://sites.google.com/view/eticadaleitura

Arquivo do blog

  • ►  2022 (1)
    • ►  abril (1)
  • ►  2020 (19)
    • ►  abril (11)
    • ►  março (8)
  • ▼  2018 (6)
    • ▼  agosto (6)
      • 0 (4) COLERIDGE, Samuel Taylor. A balada do ve...
      • 0 (3)  capítulo "é"A ética da leitura Hillis Mille...
      • 4 Primo Levi capítulo "Argon" em A Tabela Periód...
      • 3  A preocupação do pai de família ODRADEK Franz...
      • 2 Hurbinek  A Trégua  "Hurbinek era um zé-nin...
      • 1 PRIMO LEVI Se isto é um homem. Capítulo: "O c...
  • ►  2017 (1)
    • ►  setembro (1)
  • ►  2015 (1)
    • ►  abril (1)
  • ►  2013 (1)
    • ►  junho (1)
  • ►  2012 (13)
    • ►  outubro (1)
    • ►  março (2)
    • ►  fevereiro (8)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2011 (32)
    • ►  dezembro (13)
    • ►  novembro (10)
    • ►  outubro (4)
    • ►  agosto (2)
    • ►  julho (1)
    • ►  abril (2)
  • ►  2010 (14)
    • ►  junho (11)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (1)
  • ►  2009 (15)
    • ►  julho (1)
    • ►  maio (9)
    • ►  abril (5)

domingo, 19 de agosto de 2018

0 (3)  capítulo "é"A ética da leitura Hillis Miller in Ética da Leitura. Rio de janeiro, Imago, p. 73-88 [EXTRATOS]


capítulo "A ÉTICA DA LEITURA "

p. 77
Eis aqui os dois primeiros versos de "Young Sycamore" de William Carlos Williams, poema extraído de Collected Poems 1934:
I must tell you 
This young tree ...
[Preciso lhe contar -
Essa jovem árvore ... ]

Por que o poeta precisa nos contar? Que abri ação, com ulsão o im erativo força a falar? A que lei deve obedecer? O resto desse pequeno poema de vinte e quatro versos curtos não vai muito além, pelo menos aparentemente, da descrição da árvore e do modo como ela "se ergue" a partir de seu "tronco redondo e firme" diretamente para cima até os "two/eccentric knotted/twigs/bending forward/hornlike at the top" (dois/excêntricos e nodosos/ galhos/ curvados para a frente/no alto como chifres). Nada poderia ser mais comum, ou, de certa maneira, mais trivial. Tal poema aparentemente teria pouco a ver com preocupações éticas...

p. 78-9
             Milton nos diz, nos versos de abertura do Paraíso Perdido, que seu intuito é ''justificar os desígnios de Deus frente aos homens", e não \ \ há razão para duvidar que era isso que pretendia fazer. Mas o ue i de fato _temos no poema é u~a esplêndida história interligada de acontecimentos no ceu, no mferno e na 'terra, com grandes e espantosas cenas descritas de forma brilhante e com ações heróicas narradas dramaticamente. Em resumo, gerações de leitores têm achado que a grandiosidade do poema supera de longe qualquer A Ética da Leitura afirmação direta de opiniões teológicas. Esse aspecto é enfatizado pêlo fato de que mesmo alguns leitores que rejeitam totalmente a teologia de Milton consideram o Paraíso Perdido um grande poema [Cleanth Brooks, "The Primacy of the Author", The Missouri Review, 6.2, 1983, pp. 161-72]. 

p. 81
A desconstrução desafiou o pressuposto de que uma obra literária pode ser explicada pela referência à individualidade criadora do autor. Também questionou a suposição de que a história da literatura, ou a história como tal, seja uma série de "períodos"definíveis, que se desenvolvem passando de um para o outro, segundo algum paradigma de crescimento orgânico. (Tais metáforas são praticamente irresistíveis. Eu mesmo já as utilizei aqui ao relatar o "desenvolvimento" dos estudos literários nos Estados Unidos, ou ao falar do "florescimento" da teoria literária, ou ao sugerir que Kant concebeu Schiller que concebeu Arnold que concebeu Trilling ou, de forma mais geral, os estudos humanísticos nos Estados Unidos. Qual é exatamente o modo de transferência, tradução, ou transmissão presente em cada uma dessas transações?) Além disso, a desconstrução questionou o pressuposto de que uma pbra de qualidade deveria ter ou tem um significado único, passível de ser determinado e organicamente unificado. Colocou em dúvida a certeza de que a linguagem, incluindo a linguagem literária, é primordialmente referencial, que inicialmente nomeia algum estado de coisas extralingüístico e extrai o seu valor da sua exatidão e força justamente nesse processo. Afinal, a desconstrução mostrou pacientemente, através da leitura cuidadosa de uma variedade de textos literários e também filosóficos, que a linguagem figurada não é um floreio casual acrescentado a uma base literal, mas que essa linguagem, inclusive a linguagem literária, é inteiramente figurativa, da cabeça aos pés, por assim dizer. 
p. 85
Seria presunção minha tentar descrever aqui em detalhes como poderia se dar, de fato, o estabelecimento de uma nova ética de leitura. O novo papel dos estudos literários só pode ser definido em discussões sérias e prolongadas envolvendo jovens e velhos, conservadores e radicais, teóricos, historiadores da literatura, professores de língua instrumental, marxistas, feministas e todo o resto. Para tornar tal debate produtivo, seria necessário muita coragem intelectual e muito boa vontade para resistir aos interesses adquiridos, mas as condições são adequadas para tornar possível essa discussão. Contudo, gostaria de especificar o esboço essencial daquilo que seria necessário para recuperar a antiga urgência do "Preciso lhe contar" no que diz respeito ao ensino de literatura. 
     A obrigação ética primária do professor de literatura é para com a obra literária. Se há um conflito entre isso e a obrgção do Professor para com os alunos, numa direção, e para com a instituição, na outra, a obrigação para com a obra tem precedência,_por uma implacável lei da leitura. Embora seja possível imaginar que um professor faça a opção de permanecer calado em relação ao que viu numa determinada obra e deixe de escolher essa mesma obra para sua classe, caso decida adotá-la, deve contar como é na realidade. A seqüência toda de obrigações começa com o ato de leitura e com o apelo ou exigência que a obra faz ao leitor. Boa leitura quer dizer a leitura não canônica, isto é uma disposição para reconhecer o inesperado, talvez mesmo o chocante ou o escandaloso...o, presente até em obras canônicas, talvez principalmente em obras canônicas, em Homero, Dante ou Shakespeare, em Milton ou Wordsworth [...]. Quando falo em leitura não canônica, não estou me referindo a um relativismo crítico ou a uma transferência de significado para a resposta do leitor [reader response, ou estética de recepção], uma liberdade ao fazer a obra significar qualquer coisa que se queira - mas justamente o oposto. Estou me referindo a uma resposta à uma exigência feita pelas palavras na página, uma habilidade, infelizmente nada comum, de reagir ao que as palavras na páginas dizem e não ao que queremos que diga ou esperavamos que dissessem quando abrimos o livro.
A boa leitura não. ocorre com tanta freqüência pelo menos não com a freqüencia que poderíamos esperar ou desejar. Talvez ocorra com maior freqüência naqueles que também são bons escritores. A boa leitura não é de modo algum um resultado direto das pressuposições "teóricas" do leitor. A teoria literária pode facilitar ou inibir a boa leitura, mas pobre do leitor que procurar uma obra simplesmente para encontrar nela a confirmação de sua teoria. Sempre encontrará o que procura, mas não terá lido a obra. É mais provável que a boa leitura leve à não-confirmação ou a mudanças drásticas de uma teoria, em vez de lhe oferecer qualquer apoio firme. A leitura, não a teoria, é a única necessidade insubstituível no ensino da literatura. A rara capacidada de ver o objeto, nesse caso um poema, um romance, uma peça teatral ou uma obra de filosofia, como ele realmente é, para novamente citar a fraseologia de Arnold, é a única coisa necessária num bom professor de literatura. 

p. 87
Tal estudo deve ser uma retórica e uma poética, antes de ser história literária, ou um repertorio de ideias que vem sendo expressas através dos séculos na literatura. A necessidade desse foco primário na linguagem em si talvez seja a mais controversa das afirmativas que estou fazendo aqui. Talvez seja esperar muito que os departamentos de língua e literatura abram mão de forma tão ampla da prerrogativa de ensinar tudo e mais um pouc,  limitando-se ao seu assunto principal e concentrando-se no verdadeiro projeto de ensinar a boa leitura; mas, já que a boa leitura é fundamêntalmente necessária para a boa escrita, esse aparente estreitamento de escopo teria a grande virtude de reunir o ensino da leitura e o ensino da redação.


Postado por Andrea Lombardi às 17:52
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial
Assinar: Postar comentários (Atom)

Índice

  • 2020 novas postagens
  • Início

Sinalizando

Por uma ética da leitura/ per un´ etica della lettura

POR UMA ÉTICA DA LEITURA

Ética da leitura quer indicar uma ética não normativa,não ligada ao comportamento, a regras, a normas, a leis. Não ligada à Ética a Nicomaco de Aristóteles.
Ética da leitura quer sugerir uma ética que reflete principalmente sobre a leitura. Sobre a escrita (alfabética) e seus efeitos sobre os modelços de pensamento, sobre perspectiva.
Ética da leitura é o título de um ensaio de Hillis Miller, escritor e ensaista norteamericano.
Se há uma ética da leitura, ela está ligada à tradição judaica a transcrição de Decálogo (que Deus ditou e Moisés escreveu ou que Deus escreveu e entregou a Moisés). Aênfase na importância da escrita, faz com que a escrita alfabética se torna uma alavanca para transfromar o mundo. Força de um texto, narrativa decisiva, construção de um mito, que se torna chave de leitura. .
Na tradição ocidental há duas vertentes: uma grega ou gréco-cristã e uma judaica. Elas formulara duas visões sobre a origem da escrita, duas visões sobre a ética.
por isso: ética da leitura.

2009
Por uma ética da leitura Esse é o título do Blog e gostaria de explicar meu objetivo.A palavra ética está ligada, em nossa tradição, principalmente ao comportamento ou à finalidade da existência: à nossa experiência de vida.Uma reflexão sobre a leitura (e o texto), sua tradição, seus modelos e uma atenção às práticas de leitura contemporâneas mostram que um estudo das características e idiossincrasias da leitura em si é muito mais indicada para quem trabalha com os textos e tem como objetivo uma leitura mais aprofundada, que seja ou não profissional.A leitura é um procedimento que impôe, em princípio, ao leitor uma escolha: entre o texto que acaba de ler, com suas próprias tradições de leitura ("canônicas") e uma nova interpretação que o leitor deverá criar. Uma nova leitura corresponde a um procedimento indispensável. Para garantir uma escolha de liberdade, que se reflete sobre o leitor e a própria abertura para leituras posteriores. Andrea Lombardi (texto provisório)

Postado por testi/ textos às 12:27 0 comentários Links para esta postagem

Questo è il titolo del Blog e vorrei spiegare il mio obiettivo.La parola etica è legata, nella nostra tradizione, principalmente al comportamento o alla finalità dell´esistenza: alla nostra esperienza di vita. Una riflessione sulla lettura (e sul testo), la sua tradizione, i suoi modelli e un´attenzione alle pratiche di lettura contemporanee, mostrando caratteristiche e idiosincrasie della lettura in sé, è molto piú indicato per chi lavora con il testo e ha come obiettivo una lettura più approfondita, che sia o no professionale. La lettura è un procedimento che impone, in principio, al lettore una scelta: tra il testo che ha appena letto, con le sue proprie tradizioni di lettura ("canoniche") e una nuova interpretazione che il lettore dovrà creare. La creazione di una nuova interpretazione è un procedimento indispensabile, per garantire una scelta di libertà, che si riflette su noi come lettori e sulla stessa apertura a letture posteriori. Andrea Lombardi.

Memória e Literatura

Memória e Literatura
foto de Bruno Giovannetti

Visualizações de página do mês passado

Arquivo do blog

  • ►  2022 (1)
    • ►  abril (1)
  • ►  2020 (19)
    • ►  abril (11)
    • ►  março (8)
  • ▼  2018 (6)
    • ▼  agosto (6)
      • 0 (4) COLERIDGE, Samuel Taylor. A balada do ve...
      • 0 (3)  capítulo "é"A ética da leitura Hillis Mille...
      • 4 Primo Levi capítulo "Argon" em A Tabela Periód...
      • 3  A preocupação do pai de família ODRADEK Franz...
      • 2 Hurbinek  A Trégua  "Hurbinek era um zé-nin...
      • 1 PRIMO LEVI Se isto é um homem. Capítulo: "O c...
  • ►  2017 (1)
    • ►  setembro (1)
  • ►  2015 (1)
    • ►  abril (1)
  • ►  2013 (1)
    • ►  junho (1)
  • ►  2012 (13)
    • ►  outubro (1)
    • ►  março (2)
    • ►  fevereiro (8)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2011 (32)
    • ►  dezembro (13)
    • ►  novembro (10)
    • ►  outubro (4)
    • ►  agosto (2)
    • ►  julho (1)
    • ►  abril (2)
  • ►  2010 (14)
    • ►  junho (11)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (1)
  • ►  2009 (15)
    • ►  julho (1)
    • ►  maio (9)
    • ►  abril (5)

Sou docente de literatura italiana na UFRJ. Nasci em Roma e moro e trabalho no Brasil desde 1982.)á

Minha foto
Andrea Lombardi
Docente de língua e literatura italiana da UFRJ
Ver meu perfil completo
Powered By Blogger

Translate

Tema Simples. Tecnologia do Blogger.