El sueño de la razon produz
monstros
O sonho/ sono da razão produz monstros
La fantasía abandonada de la razón produce
monstruos imposibles:
unida
con ella es madre de las artes y origen de las maravillas
Goya
Um homem desfalecido, dobrado
em cima de uma mesa está em primeiro plano da imagem. Numa parede da mesa, em
que se apóia, está inscrita a frase que é o título desse Capricho de Goya, o 43. de 80, que ele terminou em 1799, na véspera
do século novo. O homem esconde sua cabeça entre os braços, pode estar em
soluços. Sua vestimenta é longa e elegante, de um representante da aristocracia
ou da burguesia. Ele está fortemente iluminado, como se estivesse no palco; atrás
dele, ainda iluminada, um grande passaro, talvez uma coruja, com suas asas
abertas; à esquerda e à direita mais corujas e em baixo, atento, um gato
enorme, ou uma lince. Em segundo plano animais estranhos, sorrateiros e
noturnos. Monstros somente esboçados, na semi-obscuridão: provavelmente
morcegos, mas os contornos não são claros. A imagem provoca compaixão em
relação ao homem, esgotado e deprimido. Os olhares fixos e alucinados dos
animais transmitem espanto, mas também uma atmosfera de delírio misturado a
temor ou terror. Um pesadelo: um peso excessivo esmaga o homem, como por
pressão de um conjunto de criações do sonho, que não podem ser detidas.
Na água-forte
realiza-se uma dupla cena, um duplo triângulo retângulo, um iluminado e outro
obscuro e os dois completam uma figura que forma quase um quadrado: o homem
completamente esgotado, tremendamente cansado ou fortemente deprimido,
encolhe-se completamente, num afastamento completo do mundo que o cerca. Ele não
percebe os inúmeros bichos que o fixam com um olhar curioso e pouco comum e que criam uma atmosfera alucinada
e hostil ao mesmo tempo. O homem enterra sua cabeça em
seus braços, definitivamente perdido, antecipando a total prostração do homem deseperado
de um desenho de Franz Kafka. Os bichos são, ao mesmo tempo, produtos de sua
imaginação e seu íncubo, pois o próprio título declara que “El sueño de la
razón produce monstros”. O íncubo, representado pelos animais
mitológicos ou demoníacos, pressiona o
inconsciente do protagonista. E há o aspecto contraditório da criação ou criatividade
(produz), que antecipa os monstros da cultura ou civilização. Sabemos que o
homem retratado é o próprio autor, que não
mostra o próprio rosto. Mas no Capricho n. 1, programática, há uma
apresentação de Goya, em trajes elegantes, olhar irônico e desdenhoso. O Capricho n. 43, uma forma de espelho,
praticamente no meio da série de 80 Caprichos.
Há, finalmente, o problema - crucial - da tradução da
palavra sueño (El
sueño de la razon produz monstros),
pois em
espanhol sueño traduz-se “sono”. Algumas traduções em várias línguas optaram por
traduzir sueño por “sono”: por ex. em
italiano “Il sonno della ragione”, em inglês “The
Sleep of Reason Produces Monsters” e em francês, Le sommeil de la raison produit des monstre. Em alemão mais a
opção Traum sonho, em e em português
as duas opções. Nos desenhos
preparatórios aos Caprichos, Goya
tinha usado a palavra sueño: “O autor sonhando. Sua única tentativa banir
prejudicial vulgar e perpetuar com esta
obra de caprichos o testemunho
sólido verdad”. Deve-se traduzir, portanto, o sonho da razão ... ou o sono da
razão, ou algo ... entre as duas? A ambigüidade
é ... muito produtiva!
El sueño de la razon não seria algo tipo sonho lucido? Assim ele estaria produzindo sua arte com a mente consciente em um ambiente totalmente moldado por ele...
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