Lingüística (1941)
Não há mais origens. Nem. Nem pode-se saber se.
Se foram as origens e nem.
E nem há razão que nasçam
as origens Nem mais
a fé, ídolo de Amorgos!
quem dizes origina as origens no toque do acento
no sonho mortal do necessário?
Não, não há mais origens. Não.
Mas
o trânsito provocado pelas idéias antigas - e dos impulsos.
E qualquer ambígüo que brote intacto
das relações
das trajetórias
das radiações
das concepções
lugar sem histórias.
Lugar onde todos.
E onde a consciência.
E onde o onde.
Para reconhecer o incomensurável sêmem das vertigens
vislumbradas
as junções estaladas nas ligações
a transparência das cartilagens
o cego espanto das folhagens
agrícolas nas forças
exteriores, e a análise funda
incisa no corpo do acento.
Não.
Não há mais. Nem origens nos galhos. nem não origens.
Quem parava os sintagmas sácios nos sortilégios da consistência
usava o espírito sem remédio no momento indecisivo
como um compasso inapto, não esperto, assim não podia-se
agir mais nada, mais, sombra ferida e referida, projeção
sem essência, de forma que especular sobre o tédio comum
pareceu um jogo, e cada átimo-fonema
ainda hojemdia beira guerra e tempo consumido, e o peso
corrompe da sombra dos trâmites da essência.
E tal seria. Este o fim concebível:
se por meio da idéia máxima do perigo e do indistinto
curva-se a alma extrema no atrito do idrogênio e do ozôno e os dias
imaturos somam dias aos dias cotidianos na heráldica
prosodia das tangências,
sufocando cada fluxo de infalível irrealidade em:
os verbos
os neologismos.
Quem os braços levantava saciados de violetas no palpitar absorto
hoje compara cada ruina compara ao espírito
imune que povoa e enruga em segmentos o nimbo
dos testemunhos históricos, das parábolas no útero
confuso das paróquias e nas largas zonas
de caça e pesca e de outras enérgicas funções culturais.
E não por isto celebro conscientemente o germe
sepultado, além,
e cérebro o étimo corroído pelas íris fônicas,
o étimo imaturo,
o étimo culto,
o étimo dos espaços avariados,
nos mínimos intervalos,
nas conjunções,
o étimo da solidão possuída,
o étimo na sede
e na sede idônea às fósseis pedras iluminadas
pelas fosforescências iduméias, ídolo de Amorgos!
[trad. De Andrea Lombardi]
Não há mais origens. Nem. Nem pode-se saber se.
Se foram as origens e nem.
E nem há razão que nasçam
as origens Nem mais
a fé, ídolo de Amorgos!
quem dizes origina as origens no toque do acento
no sonho mortal do necessário?
Não, não há mais origens. Não.
Mas
o trânsito provocado pelas idéias antigas - e dos impulsos.
E qualquer ambígüo que brote intacto
das relações
das trajetórias
das radiações
das concepções
lugar sem histórias.
Lugar onde todos.
E onde a consciência.
E onde o onde.
Para reconhecer o incomensurável sêmem das vertigens
vislumbradas
as junções estaladas nas ligações
a transparência das cartilagens
o cego espanto das folhagens
agrícolas nas forças
exteriores, e a análise funda
incisa no corpo do acento.
Não.
Não há mais. Nem origens nos galhos. nem não origens.
Quem parava os sintagmas sácios nos sortilégios da consistência
usava o espírito sem remédio no momento indecisivo
como um compasso inapto, não esperto, assim não podia-se
agir mais nada, mais, sombra ferida e referida, projeção
sem essência, de forma que especular sobre o tédio comum
pareceu um jogo, e cada átimo-fonema
ainda hojemdia beira guerra e tempo consumido, e o peso
corrompe da sombra dos trâmites da essência.
E tal seria. Este o fim concebível:
se por meio da idéia máxima do perigo e do indistinto
curva-se a alma extrema no atrito do idrogênio e do ozôno e os dias
imaturos somam dias aos dias cotidianos na heráldica
prosodia das tangências,
sufocando cada fluxo de infalível irrealidade em:
os verbos
os neologismos.
Quem os braços levantava saciados de violetas no palpitar absorto
hoje compara cada ruina compara ao espírito
imune que povoa e enruga em segmentos o nimbo
dos testemunhos históricos, das parábolas no útero
confuso das paróquias e nas largas zonas
de caça e pesca e de outras enérgicas funções culturais.
E não por isto celebro conscientemente o germe
sepultado, além,
e cérebro o étimo corroído pelas íris fônicas,
o étimo imaturo,
o étimo culto,
o étimo dos espaços avariados,
nos mínimos intervalos,
nas conjunções,
o étimo da solidão possuída,
o étimo na sede
e na sede idônea às fósseis pedras iluminadas
pelas fosforescências iduméias, ídolo de Amorgos!
[trad. De Andrea Lombardi]
Mata-borrão parta Flavio Motta
MATA-BORRÃO PARA FLAVIO MOTTA
eu diria l’m encantado, e então
uma nuviosa designação de continentes involuntarios por jogos
nasais, fundos jogos, acende
ao lonje entre os anos desperdidos itinerantes
como faiscas de amarguras
abdominais, como bichos de cristal na nuca muda, acende
o nome mais amado mais miolo mais milagre
e o quem diz: “agora!”e o quem
cai no corte mítico do mundo, nas luminosas
trovejadas generações dos nomes: léxico
jejum e fresco come o prado de espinafre de trevo
no recóncavo, pálidas requisições de ecos
e espirros e réplicas, anforas anoitecidas
no pulmão gigante, palpitantes gengivas, cenoiras
africanas, paleoafricanas, protoafricanas, coxas
rasgadas o abertas, polpas de abóboras
ideais: agora, agora. Nam rectitudo
per se est phallica, truncada também, devagazinha:
onde uma zigoma torna-se sigla e sigilo, torna-se
constellação deitada nas escuras polpas sem nomes
e incha-se então de raiva a fonte das medidas
e das mudançãs, lá, eu digo, provocar
o poder subhumano da pasmação, do broto
não mortal, o vôo ocioso, o ganir
chupado, de viboras nas câimbras
das vagas, dos grans, e veremos lampejar
a alta caça, a esgrima
em voz baixa na caveira, as balanças de ossos
eschatologicos, agora mismo,
si o sangue da sombra não é sangue ni sombra,
si o cavalo do cavalo agora é sombra desmaiada
o sombra brotada na suma sombra ostra, o som
da tromba saca o celeste descontecer, afrouxa
o orvalho, e o remo corta em dois as cinzas
dos vivos e as cinzas dos sons, como
na páscoa dos continentes cortó o Brazil e a Angola,
cortó as arvores da ciencia e as arvores da loucura
peregrinante, cortó o tubarão em dois espelhos
a tromba grande: não agora.
Bahia, 1951
eu diria l’m encantado, e então
uma nuviosa designação de continentes involuntarios por jogos
nasais, fundos jogos, acende
ao lonje entre os anos desperdidos itinerantes
como faiscas de amarguras
abdominais, como bichos de cristal na nuca muda, acende
o nome mais amado mais miolo mais milagre
e o quem diz: “agora!”e o quem
cai no corte mítico do mundo, nas luminosas
trovejadas generações dos nomes: léxico
jejum e fresco come o prado de espinafre de trevo
no recóncavo, pálidas requisições de ecos
e espirros e réplicas, anforas anoitecidas
no pulmão gigante, palpitantes gengivas, cenoiras
africanas, paleoafricanas, protoafricanas, coxas
rasgadas o abertas, polpas de abóboras
ideais: agora, agora. Nam rectitudo
per se est phallica, truncada também, devagazinha:
onde uma zigoma torna-se sigla e sigilo, torna-se
constellação deitada nas escuras polpas sem nomes
e incha-se então de raiva a fonte das medidas
e das mudançãs, lá, eu digo, provocar
o poder subhumano da pasmação, do broto
não mortal, o vôo ocioso, o ganir
chupado, de viboras nas câimbras
das vagas, dos grans, e veremos lampejar
a alta caça, a esgrima
em voz baixa na caveira, as balanças de ossos
eschatologicos, agora mismo,
si o sangue da sombra não é sangue ni sombra,
si o cavalo do cavalo agora é sombra desmaiada
o sombra brotada na suma sombra ostra, o som
da tromba saca o celeste descontecer, afrouxa
o orvalho, e o remo corta em dois as cinzas
dos vivos e as cinzas dos sons, como
na páscoa dos continentes cortó o Brazil e a Angola,
cortó as arvores da ciencia e as arvores da loucura
peregrinante, cortó o tubarão em dois espelhos
a tromba grande: não agora.
Bahia, 1951
Os puristas são enfadonhos e inúteis [i]
A superioridade da língua brasileira sóbre a portuguêsa não consiste no
fato de ser uma sua derivação provincial ou marginal, ou, mesmo, colonial. Se
assim fósse, o idioma brasileiro estaria fadado a bem cedo tornar-se árido numa
cristalização secundária, Inadequada para as grandes tarefas que lhe incumbem.
Ao contrário, se a língua não representasse evolução, movimento contínuo, hoje
no Brasil falaríamos ainda, não o idioma brasileiro, que deve constituir
personalidade própria e definida, mas a fala cortês, "courtois", dos
antigos trovadores galego-portuguêses? de 1300.
Os puristas, que sempre ignoram a verdadeira história das línguas,
talvez suponham que o português seja um idioma puro. Quando dizem que se trata
de uma língua derivada do latim,
(assertlva
clentllicamente errada), dlssemm tudo. Ora, o português é uma combinação
morfológlca de:
léxico latino provincial
léxico latino tardio e medieval
léxico latino eclesiástico
léxico latino da renascença
léxico árabe e persa
léxico francês
léxico franco-provençal
léxico hispano-catalão
Mais:
resíduos bascos
resíduos germânicos
diversos
resíduos literários
italianos
resíduos inglêses
resíduos franceses
modernos
Mais:
todo material
neologístico popular
Mais:
as contribuições
brasileiras coloniais
as contribuições do
léxico indigena ameríndio.
Mais:
tôdas as fon/tações
espontâneas populares
e da gíria,
próprias dos dialetos brasileiros.
[i]In HABITAT
n. 7 Diretor Arq. Lina Bo Bardi São
Paulo, Habitat Ed. Ltda. Rua sete de Abrril, 230/8º [ 1950]