UMA DISCUSSÃO SOBRE LÉVINAS NO DIA 19 DE JUNHO DE 2013 COM NOEMI JAFFE e outros amigos
Noemi Jaffe
Noemi Jaffe
Desculpem o pedantismo da colocação
filosófica, mas é que é tão pertinente e, na minha opinião, importante, que não
resisti:
"A ética é a filosofia primeira, anterior a toda filosofia possível. É
anterior à aventura do saber e às truculências da tematização [...] A
subjetividade não é razão temática, é sensibilidade. A
intersubjetividade não é estratégia arrazoada, é recebimento. Assim
como a sensibilidade e o recebimento são anteriores a razão temática e
à estratégia arrazoada, assim também a ética é anterior a
fenomenologia transcendental, à ontologia fundamental existencial e a
toda filosofia possível"
Emanuel Lévinas
"A ética é a filosofia primeira, anterior a toda filosofia possível. É
anterior à aventura do saber e às truculências da tematização [...] A
subjetividade não é razão temática, é sensibilidade. A
intersubjetividade não é estratégia arrazoada, é recebimento. Assim
como a sensibilidade e o recebimento são anteriores a razão temática e
à estratégia arrazoada, assim também a ética é anterior a
fenomenologia transcendental, à ontologia fundamental existencial e a
toda filosofia possível"
Emanuel Lévinas
·
Giselda Leirner "
A VERDADEIRA VIDA ESTÁ AUSENTE". MAS NÓS ESTAMOS NO MUNDO . Emanuel
Lévinas
Andrea Lombardi Como
é aquela tradição onde entre dois há três opiniões? "A ética é a filosofia
primeira, anterior a toda filosofia possível." Não, não precisamos
procurar "filosofias", amigas das ciências ou amigas da onça. Pois -
em princípio - filosofia é leitura que renega a materialidade da escrita e sua
exegêse, em estilo concretista ou bíblica (tanto faz). Não é primeira, pois
antes do primeiro havia o nada, ou seja: é a tradição grega que procura "o
primeiro" (Platão, Heráclito? ). A tradição judaica (do outro lado), preza
a interpretação à partir da materialidade de um texto, sua leitura, releitura e
interpretação.
·
Andrea Lombardi Que
a intersubjetividade fosse recebimento, em outras palavras, o disse tb o rabino
Hillel e, depois dele, o pensamento cristão. Mas intersubjetividade é conflito,
pois na leitura há conflito contra os precedecessores (Bloom). Não: não há
"uma " ética. Há uma ética das decisões, estratégias de leituras
possíveis (algo que Ricoeur poderia ter falado).
·
Andrea Lombardi Viu,
Giselda minha queridíssima: Nem dá apara aceitar que a "verdadeira"
vida estaria ausente. O que é verdadeiro? Aletheia grego? Verdadeiro é algo que
os filósofos espalharam, para eles poderem administrar a interpretação (Platão:
Fedro, República e outros textos).
Leonor Rufino Ética
é ação !
Andrea Lombardi Nós,
filhos das vanguardas (netos, bisnetos), tataranetos dos romanticos alemãos,
herdeiros do que não poderia escrever poemas depois de Auschwitz, devemos dizer
às claras letras: somos a favor da autenticidade, na´da verdade, a favor da
experiência, não da verosimilhança. Somo radicais...
Álvaro, tentando desenhar um pouco
minha pobre compreensão de Lévinas (e o Andrea aqui abaixo entende melhor do que
eu), a ideia geral é a de que não se deve (ou pode) ir atrás de uma essência, um
núcleo puro e original. A ética, assim, anterior à filosofia (essa busca
ontológica) está nas leituras, nas interpretações e os encontros (a
intersubjetividade) devem ser marcados por uma outridade, recebimento e não
pela mesmidade, pela quididade. Não busco a mim no outro mas busco o outro em
mim.
Andrea Lombardi OI! Noemi Jaffe:
certamente eu não entendo mais, mas a perspectiva de leitura minha é (um
pouco!) radical. Há uma boa confusão, entre filosofia como norma de vida
(filosofia moral), filosofia como tradição filosófica do Ocidente (o
essencialismo, de que fala Derrida) e filosofia como conceito popular, do dia a
dia... Nada contra o terceiro (minha filosofia, o Dalai Lama prega uma
filosofia e os indigena defendem uma filosofia de vida ambiental, ou algo
assim: eu defendo essa última visão!). Mas - sem escolher uma entre várias
visões,a "FILOSOFIA" (com letras maiúsculas) subentende uma
perspectiva "essencial", "única", "privilegiada",
"iluminada", que é mais o u menos a que Platão afirma... (e,
acrescenta, o filósofo grego) e O FILÓSOFO (ele mesmo!), que pode interpretar
melhor as coisas, enxergar "a essência" do que estaria escondido aos
demais...
Andrea Lombardi Mas
a tradição judaica trouxe o louvor ao texto, à escrita alfabética,
INDEPENDENTEMENTE, do seu intérprete. Ou seja: haverá sempre um novo
intérprete, para o mesmo texto, o que significa que .... A INTERPRETAÇÃO É
INFINITA (o exato contrário da interpretação privilegiada e única). A relação
entre leitor e texto, é sempre uma relação crítica, de CONFLITO, pois o leitor
quer sempre extrair do texto, algo que o texto "não quer largar", uma
interpretação, uma leitura, que o texto original NÃO QUER soltar. Por que:? Por
que o texto original se apresenta com sua materialidade (escrita alfabética) e
com a acréscimo das críticas que grudaram no texto (por ex.: Antonio Cândido,
Roberto Schwartz ou qualquer outro crítico, por melhor que seja). O novo leitor
(novamente Harold Bloom ecoa aqui) precisa abrir seu espaço na leitura, precisa
ganhar sua autorização à leitura nova e original e, portanto, ele precisa
entrar EM CONFLITO com o texto tradicional. Em GUERRA (não necessariamente com
a parte violenta das manifestações, mas algo parecido). Por isso, não consegui
nunca entender Lévinas, cujo estilo da escrita eu curto, mas cujas orientações
(filosofias?) parecem-me orientadas à conciliação, submissão da opinião
própria, aceitação da necessidade de juntar os cacos (mas juntar os cacos,
além de um famoso mito cabalista, não é nada tão proveitoso: Vc já juntou os
cacos de uma jarra? Funcionou? ... Peço desculpa pela minha heresia, a
verbosidade e os -prováveis - infinitos erros de ortografia e gramática. Mas,
Vc sabe, Noemi , eu me sinto ainda OUTRO e ainda sou estrangeiro (não sei se
mais pela origem judaica ou aquela italiana) . Ou melhor: sempre serei
estrangeiro. Pois estar na posição de estrangeiro talvez seja o ponto de vista
melhor para ler...
Valmir Ferreira E
no lugar do não roubarás, compartilhar o pouco que tem com aquele nada nada
tem.
Juliana Sá Deixar
viver, fazer viver.
Irene Sinnecker Levin amar
o próximo como a si mesmo
Andrea Lombardi Sim,
sim, nada contra... ´E o que Hillel disse (II. sec a. C.), e o que a religião
cristão pregou: "fazer de tudo para que outro viva"; não
roubar", "Deixar viver", "amar o próximo como a si
mesmo". (a verdade é que eu gosto da polêmica!). Desculpem parecer ser tão
agressivo, mas eu estou convencido que assim não se tira do texto sua linfa
vital, sua alma, sua respiração viva (e não artificial), seu alcance, seu
estilo e seu carisma. Para que ler textos interessantes, se é para confirmar um
opinião preconcebida? Ou seja: que deve ter um final feliz? ??? Existe, sim, o
final feliz, mas é na comédia, tradicionalmente. Há a tragédia (na tradição
grega e gréco-cristã) e, finalmente, há uma tradição nova: de Kafka a Benjamin,
de Jakobson e Derrida, passando pelo estruturalismo, o pós-estruturalismo.
Todos esses defendem o caráter decisivo do estudo do texto...