Ferreira Gullar acerta 100%
a procura da ética
Gostaria de deixar claro que não sempre minhas
posições coincidem com de alguns intelectuais, como Ferreira Gullar (afinal um
poeta, se for bom, não precisa ser um cidadão ético). Afinal, cada um de nós
tem sua posição. Mas que esse texto do Ferreira Gullar acertou... não há
dúvida. Ele acertou mesmo! ! Em cheio ! Redondo! 100% , por isso vou sugerir
dar uma lida nele.
A política, dizem, é uma escolha
racional....
Não é bem assim! A política é algo muito
emocional, epidérmico, que vem de longínquos e aleatórios estímulos: chamados
da ética, dos princípios (às vezes a gente é movido por algo sublimado e... se
sente melhor!) ...A gente se rebela, quando vê uma injustiça, não se lê o texto
de um iluminista...
Pensávamos há 15 anos (e o mundo ainda pensa)
que este estilo bonachão, paternalista, que ainda pensa conforme antes do muro
de Berlim, podia mudar o Brasil. E mudou mesmo, não mudou? Conquistou a
simpatia do mundo, não conquistou? POr outro
lado, quem não pensava que Cuba e Venezuela não eram
"amigos" e quem não condenava "as elites", responsáveis por
tudo. Quem não aplaudiu o "bolsismo " (ou seja: aquela danada
tendência em reduzir qualquer avanço social despejando bolsas, que agora
influenciam 20/30 % do eleitorado)
Mas o contexto mudou. O mundo mudou e hoje pensamos que tudo isso não está
certo, especialmente se o preço foi comprar com dezenas de milhoes de dinheiro
público o apoio dos partidos todos. A situação muda e continuar com estilo
sindicalista radical (todos que fazem parte do meu time são amigos, os que não
são do grupo: inimigos. A vida se ganha comprando os adversários e sempre
mostrando-se conciliador)
Mas... o que estou fazendo... essa é só minha opinião, não a de Ferreira Gullar.
Muito melhor é que Vcs leiam o artigo dele. Sobre o mensalão. Eu, de minha
parte, concordo 100%
Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta. Escreve aos domingos na versão impressa de "Ilustrada".
30/09/2012 - 03h00
Tapar o sol
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ferreiragullar/1160933-tapar-o-sol.shtml
Gostaria de deixar claro que não tenho nada de pessoal contra o ex-presidente Lula, nem nenhum compromisso partidário, eleitoral ou ideológico com ninguém. Digo isso porque, nesta coluna, tenho emitido, com alguma frequência, opiniões críticas sobre a atuação do referido político, o que poderia levar o leitor àquela suposição.
Não resta dúvida de que tenho sérias restrições ao seu comportamento e especificamente a certas declarações que emite, sem qualquer compromisso com a verdade dos fatos. E, se o faço, é porque o tenho como um líder político importante, capaz de influir no destino do país. Noutras palavras, o que ele diz e faz, pela influência de que desfruta, importa a todos nós.
E a propósito disso é que me surpreende a facilidade com que faz afirmações que só atendem a sua conveniência, mas sem qualquer compromisso com a verdade. É certo que o faz sabendo que não enganará as pessoas bem informadas, mas sim aquelas que creem cegamente no que ele diga, seja o que for.
Exemplo disso foi a entrevista que deu a um repórter do "New York Times", quando voltou a afirmar que o mensalão é apenas uma invenção de seus adversários políticos. E vejam bem, ele fez tal afirmação quando o Supremo Tribunal Federal já julgava os acusados nesse processo e já havia condenado vários deles. Afirmar o que afirmou em tais circunstâncias mostra o seu total descompromisso com a verdade e total desrespeito com às instituições do Estado brasileiro.
Pode alguém admitir que a mais alta corte de Justiça do país aceitaria, como procedentes, acusações que fossem meras invenções de políticos e jornalistas irresponsáveis?
E mais: os ministros do STF passaram sete anos analisando os autos desse processo, tempo mais que suficiente para avaliá-lo. Afirmar, como faz Lula, que tudo aquilo é mera invenção equivale a dizer, implicitamente, que os ministros do STF são coniventes com uma grande farsa.
Mas o descompromisso de Lula com os fatos parece não ter limites. Para levar o entrevistador do "NYT" a crer na sua versão, disse que não precisava comprar votos, pois, ao assumir a Presidência, contava com a maioria dos deputados federais.
Não contava. Os verdadeiros dados são os seguintes: o PT elegera 91 deputados; o PSB, 24,; o PL, 26, o PC do B, 12, num total de 153 deputados. Mesmo com os eleitos por partidos menores, cuja adesão negociava, não alcançava a metade mais um dos membros da Câmara Federal.
Cabe observar que ele não disse ao jornalista norte-americano que não comprou os deputados porque seria indigno fazê-lo. Disse que não os comprou porque tinha maioria, ou seja, não necessitava comprá-los. Pode-se deduzir, então, que, como na verdade necessitava, os comprou. Não há que se surpreender, Lula é isso mesmo. Sempre o foi, desde sua militância no sindicato. Para ele, não há valores: vale o que o levar ao poder ou o mantiver nele.
Sucede que, apesar do que diga, ninguém mais duvida de que houve o mensalão. Pior ainda, corre por aí que o Marcos Valério está disposto a pôr a boca no mundo e contar que o verdadeiro chefe da patranha era o Lula mesmo, como, aliás, sempre esteve evidente. E já o procurador-geral da República declarou que, se os dados se confirmarem, o processará. É nessas horas que o Lula falastrão se cala e desaparece. Às vezes, chama Dilma para defendê-lo.
Desta vez, chamou o Rui Falcão, presidente do PT, para articular o apoio dos líderes da base política do governo. Disso resultou um documento desastroso, que chega ao ponto de acusar o Supremo de perpetrar um golpe de Estado contra a democracia, equivalente aos golpes que derrubaram Vargas e João Goulart. Pode? Vargas e Goulart, como se sabe, foram depostos pela extrema direita com o apoio de militares golpistas.
O julgamento do STF realiza-se às claras, à vista de milhões de telespectadores. Não é uma conspiração. Ele desempenha as funções que a Constituição lhe atribui. E que golpe é esse contra um político que não está no poder?
O tal manifesto só causou constrangimento. O governador Eduardo Campos, de Pernambuco, deu a entender que foi forçado a assiná-lo, após rejeitar três versões dele. Enfim, mais um vexame. Só que Lula, nessas horas, não aparece. Manda alguém fazer por ele, seja um manifesto, seja um mensalão.